Os adjetivos pejorativos sempre estiveram presentes e quase sempre traziam um tom mais negativo para o lado dos blogs, como quando os apontavam como meros diários adolescentes. Porém não podemos esquecer, é claro, que a imprensa profissional também sofria com algumas alfinetadas, por exemplo, como quando o assunto é liberdade editorial.

Bom, blogs nunca foram plataformas de diários adolescentes. Tal fato foi uma tentativa de inferiorizá-los através de significados difusos com origens plantadas somente para dar um ar pejorativo e com pouca ou nenhuma seriedade ao meio. Uma mídia que se destina única e exclusivamente para publicações de passagens fúteis e sem maiores aprofundamentos dificilmente seria levada em consideração por muitos.

Acontece que esse mito já se desfez e hoje os blogs são encarados como plataformas profissionais de publicações informativas. Alguns funcionam como verdadeiros portais de notícias segmentadas. Porém, tratar a todos como ferramentas baseadas na mais pura liberdade editorial é uma utopia tão grande quanto achar que grandes jornais são totalmente manipulados por interesses de grupos econômicos vigentes no Brasil.

Blogs e jornais deviam andar lado a lado, mas ainda são tratados de formas diferentes. A imprensa tradicional é vista com grandes e bons olhos por grande parte da sociedade. Eventos de comunicação digital, por exemplo, são os primeiros a elogiarem os blogs como plataformas independentes, mas são também os primeiros na hora de ignorarem tais mídias com a credencial de imprensa. Mas, blogueiro é imprensa?

Inversão de olhares

Ora, um jornalista só por ser jornalista não é imprensa. Ele precisa atuar como imprensa. Ele precisa exercer a imprensa, mesmo que de forma independente. Um blogueiro que escreve em um blog não é imprensa só por ser um blogueiro. Sua plataforma deve ser estruturada em um modelo que passe credibilidade, conteúdo, domínio no assunto e, acima de tudo, tenha teor jornalístico.

Blogs com cadastro de imprensa são blogs que atuam na apuração, formatação e publicação de conteúdo. Escrever sobre uma pauta só porque existe o interesse não faz de um blogueiro um profissional de imprensa. É preciso tomar muito cuidado com as definições e não definições que estão sendo empregadas ultimamente. Um blogueiro profissional é capaz de cobrir um evento tanto quanto um jornalista formado, porém não é só porque ele tem domínio no assunto que um crachá de imprensa deverá levar seu nome.

A profissionalização da blogosfera brasileira ainda caminha a passos lentos. Mesmo com o número cada vez maior de blogs profissionalmente estruturados, a fobia em se conseguir o status que a imprensa tradicional possui é muito grande – e por vezes desnecessária. Blogueiros por muitas vezes querem ser vistos como imprensa oficial e a imprensa muitas vezes quer passar uma imagem mais informal, quase a que grandes blogueiros possuem. A inversão de olhares tem se tornado constante e se firmado como um objetivo nocivo ao jornalismo digital.

Texto no Observatório da Imprensa.